Onde moras?
João Batista conversava com dois discípulos quando viu Jesus passar e lhes disse quem era ele. Movidos pela curiosidade, os dois interromperam a conversa e foram ao seu encontro. Desejam conhece-lo melhor e porque atraía tantas pessoas para ouvir suas mensagens.
Percebendo que estava sendo seguido, Jesus voltou-se para eles e perguntou:
- O que vocês estão buscando?
Pegos de surpresa, a primeira resposta que lhes veio saiu espontânea:
- Queremos saber onde moras, responderam eles.
É uma justificativa improvisada. No contexto, aparentemente, sem nenhum sentido. Qual interesse em saber o endereço de Jesus?
Esse interesse dos discípulos de João vem de um desejo explícito ou disfarçado em manifestações somatizadas ou racionalizações especulativas sobre a vida.
O que poderia ser o desejo oculto desses discípulos?
Para discípulos de João, poderia ser para eles o desdobramento da pregação de seu mestre quando, nas margens do Rio Jordão, os convidava a preparar o caminho do Senhor...
É uma razão muito mais profunda do que a curiosidade de ver a casa de um pregador.
Esse desejo não depende de nenhum condicionamento, menos ainda de uma aquisição material ou satisfação de carências. Não se mistura com os procedimentos da sobrevivência na luta pela vida.
É a alma que alimenta a busca da perfeição impulsionada pela recomendação que Jesus deixou explícita no evangelho: “sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”.
A sociedade consumista promete satisfação completa. Há uma verdadeira indústria para o bem-estar, para o lazer. Cada vez mais multiplicam-se as oportunidades e promoções para satisfações imediatas. Justamente nisso está a sua fragilidade. Uma vez satisfeita, a pessoa sente que voltou à estaca zero. A insatisfação continua.
O desejo existencial é insaciável. Tem um dinamismo de continuidade porque não consegue apropriar-se do que pretende conseguir, mas é motivado constantemente por ele: o sentido da vida. Descobre o objetivo real das intenções e o traduz no comportamento e atitudes que não se deixam levar pelas seduções de uma sociedade consumista.
Na Torre de Babel encontra-se a cidade dos homens. É impressionante a agitação e dinamismo de uma ruidosa colmeia de pessoas apressadas e tensas, no vai e vem, de sobe e desce, no meio do barulho e poluição. O acesso a ela é imediato, direto. Basta seguir o que os outros fazem.
Na Casa de Deus o clima é de paz, de acolhida. Faz as pessoas se sentirem bem. Há fontes de água viva, jardins floridos e andorinhas morando nas ameias e a brisa suave ao cair da tarde...
Para encontrá-la é preciso empreender uma viagem para dentro de si mesmo. Discernir quais as moções que sinalizam o caminho certo. Desta forma, o desejo que motiva buscar se manifesta numa profunda paz interior. Essa é a casa onde mora o Jesus que os discípulos de João Batista desejavam conhecer.