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Os desafios na área de transporte vertical

Os desafios na área de transporte vertical


  03/12/2018

Presidente da Atlas Schindler, o engenheiro mecânico formado pela FEI, Flavio Luis da Silva aborda os desafios do mercado na área de transporte vertical no Brasil

O engenheiro mecânico Flavio Luis da Silva, formado pelo Centro Universitário FEI em 1992, presidente da Elevadores Atlas Schindler falou em uma entrevista exclusiva para a Revista Domínio FEI sobre os desafios a frente da companhia, entre os quais manter a trajetória de sucesso da empresa e ampliar alguns escopos de atuação onde há potencial de negócios. Confira!

A empresa fez uma mudança organizacional importante, uma vez que o senhor cuidará exclusivamente dos negócios no Brasil. Para a companhia, qual é o potencial do País?
O Grupo Schindler vê o Brasil como uma de suas principais praças de atuação. Nossa liderança em transportes verticais no País é altamente reconhecida pela matriz e é o resultado de anos de comprometimento com o mercado e de um planejamento com objetivos de longo prazo. Destaco os aspectos de uma gestão ativa e as diferentes fontes de receita, divididas em nossas três linhas de negócios, como chave para o sucesso. Trabalhamos fortemente com a fabricação e a venda de novos produtos e focamos nas áreas de manutenção e modernização dos equipamentos.

Quais são seus principais desafios e expectativas à frente da Elevadores Atlas Schindler no Brasil?
A Atlas Schindler é uma marca reconhecida no mercado brasileiro, detentora de inúmeros prêmios que denotam a qualidade e a excelência dos produtos e serviços que sempre pautaram o trabalho de nossos funcionários no País. Meu desafio será ampliar esta imagem no mercado, mantendo a empresa na vanguarda das inovações e trazendo aos nossos clientes as melhores soluções. A empresa, que completa 100 anos em 2018, está repleta de histórias que convergem com as grandes transformações da sociedade brasileira, como a verticalização de cidades, a exemplo de São Paulo e Rio de Janeiro, e a construção de Brasília. Como presidente, meu objetivo é manter esta trajetória de sucesso e ampliar alguns escopos de atuação onde há potencial de negócios. O elevador está cada vez mais presente na vida das pessoas e a nossa meta é integrá-lo ainda mais. Com o desenvolvimento de novas plataformas digitais, o elevador – que já é o meio de transporte mais seguro do mundo – terá a sua confiabilidade ainda mais elevada e será um elemento cada vez mais próximo das pessoas.

Quais são as características da sua administração e os planos da empresa para os próximos anos?
O Grupo Schindler sempre trabalha com uma visão de longo prazo. Estamos preparados para a demanda em infraestrutura e moradia que o novo ciclo de crescimento no Brasil está gerando. Continuaremos a colocar em prática o plano que iniciamos em 2016, com um investimento de R$ 100 milhões no Brasil para a melhoria das nossas instalações e processos. Nosso objetivo é aprimorar o atendimento aos clientes, a exemplo do que ocorreu com os investimentos na unidade de produção de Londrina (PR), que passou a contar com processos alinhados com a plataforma global da Schindler e se tornou apta para exportar produtos para toda a América Latina. Como estratégia de longo prazo, manteremos o portfólio local de produtos alinhado com os lançamentos globais, simultaneamente à introdução de novos produtos na Europa e em outros países. Ainda sobre o longo prazo, nosso objetivo é impulsionar a mobilidade urbana digital com a plataforma Schindler Ahead, otimizando a experiência dos clientes e usuários com os produtos da empresa e conectando o elevador ainda mais ao cotidiano da população.

Os avanços tecnológicos e as tendências de comportamento criaram novas alternativas e mudanças de paradigma em diversos negócios. Como está o setor de transporte vertical diante disso?
Com certeza, as inovações estão mudando rapidamente os negócios em todos os setores e a Schindler está atenta aos movimentos do mercado. O Schindler Digital Plan, por exemplo, é um sistema que permite o planejamento da configuração e do design dos elevadores. Esse recurso global do Grupo Schindler chegou ao Brasil recentemente para facilitar o trabalho de projetistas e arquitetos a desenhar um pré-projeto e incluí-lo em sua planta final. O sistema indica a solução recomendada com a especificação do produto e um desenho detalhado do layout. O Schindler Ahead, por sua vez, é uma plataforma digital para soluções inteligentes de mobilidade urbana. Baseado em tecnologias inovadoras como a Internet das Coisas (IoT), além de sistemas de análise avançados, oferece aos nossos clientes dados em tempo real, maior confiabilidade e disponibilidade dos equipamentos. Nosso objetivo é agregar cada vez mais tecnologia, praticidade e interatividade ao dia a dia, tanto da operação da empresa como de nossos clientes e usuários.

Quais foram as principais inovações da empresa nos últimos anos?
Nas últimas décadas, a introdução de novas tecnologias mudou radicalmente nosso negócio, principalmente com a introdução de elementos que contribuem para otimização das viagens, redução do tempo de deslocamento, mais conforto para os passageiros, economia de energia e preservação do meio ambiente. Se fizermos um paralelo com a indústria automotiva, veremos que na década de 1970 um veículo era basicamente formado por componentes mecânicos, que cumpria sua função, mas tinha limitações.
A evolução da indústria fez com que uma série de inovações, principalmente eletrônicas, trouxesse melhorias aos veículos. O mesmo processo se verificou na nossa indústria. Um dos exemplos de inovação da Atlas Schindler é o Port Technology, um avançado sistema de gestão de acesso capaz de planejar viagens na medida exata para cada usuário.
Por meio de um terminal com tela touch, os passageiros são identificados e atendidos de maneira rápida e personalizada. O elevador não só atende às chamadas como reconhece, se comunica em vários idiomas e oferece ao passageiro o caminho mais inteligente até seu destino. Entre os vários recursos e benefícios do Port Technology está a função ECO que, ao identificar a baixa utilização dos elevadores, aciona o modo stand-by gerando grande economia de energia.
As tecnologias recentes de elevadores Atlas Schindler também utilizam sistemas de tração que eliminam o uso de cabos de aço, máquinas sem engrenagem que dispensam a aplicação de óleo lubrificante, função stand-by para o desligamento automático das luzes de cabina, além de componentes de iluminação e sinalizações em LED. Tudo isso contribui com o meio ambiente e garante mais eficiência energética para os empreendimentos. Nessa mesma linha, nossas escadas rolantes garantem mais eficiência energética a partir, por exemplo, do acionamento do sistema de gerenciamento inteligente, que reduz a atividade dos equipamentos e, consequentemente, o consumo de energia em momentos de baixo fluxo de usuários.

De que maneira a tecnologia tem ajudado os técnicos no que se refere à manutenção desses equipamentos de transporte vertical?
O mesmo enfoque mencionado acima se aplica aos serviços de manutenção, que se encontram cada vez mais alinhados com as recentes tecnologias, viabilizando maior disponibilidade e interatividade com os usuários. Uma das tecnologias usadas pela Atlas Schindler é o FieldLink, utilizada em smartphones pela equipe técnica de manutenção. Essa inovação traz uma série de benefícios para nossos clientes, com destaque para a agilidade no fluxo das informações, e para os nossos técnicos, como a possibilidade de consultas à documentação técnica e facilidade na identificação e requisição de materiais no próprio local do atendimento. Outro ponto importante é a substituição de papéis por documentos digitais, impactando diretamente na eficiência do sistema. A assinatura do cliente é feita diretamente no smartphone do técnico e a ficha da execução da atividade, o cartão de manutenção e outras informações contidas no livro de registro passam a ser digitais e enviadas por e-mail. Esses são, juntamente com uma equipe técnica qualificada, um corpo de engenheiros de primeira linha e uma fábrica muito moderna, os diferenciais que oferecemos aos clientes e que, com certeza, nos mantêm em posição de destaque no mercado.

Elevadores e escadas rolantes sempre usaram aço como matéria-prima. Há inovadoras também em relação aos materiais e componentes?
Sim, neste aspecto também temos inovações, sobretudo em relação ao design dos elevadores que propiciam ampla liberdade de escolha dos acabamentos da cabina, permitindo selecionar centenas de opções de configuração. É o caso, por exemplo, do Schindler 5500, no qual é possível usar vidro nos painéis e nas portas.
Em 2016 lançamos a linha Schindler 3300 New Edition, uma nova geração de elevadores sem casa de máquinas, que permite a personalização a partir de inúmeras combinações de cores, texturas e materiais que valorizam projetos arquitetônicos residenciais e comerciais. Ao ampliar as possibilidades de design, o modelo torna possível harmonizar o padrão estético de todos os elevadores de um edifício, mesmo quando há diferentes requerimentos técnicos no mesmo empreendimento, resultando na melhor relação custo x benefício.

Como a Elevadores Atlas Schindler pode contribuir com as necessidades de acessibilidade atuais?
Oferecer segurança e agilidade para cada pessoa que interage com a nossa marca é um movimento diário de todos na companhia. Buscamos desenvolver novos produtos e soluções para produzir e modernizar equipamentos que proporcionem mais comodidade a todos os usuários. Unimos inteligência em gestão de tráfego, design, sofisticação e importantes recursos de acessibilidade. Algumas especificações voltadas a esses objetivos são dimensões internas mínimas da cabina para liberdade de acesso e movimento a cadeirantes; portas com largura mínima do vão livre de 800mm; botões microcurso, com sinalização em braile e sinal audível emitido na operação individual do botão; sinal acústico que identifica os andares; corrimãos instalados nos painéis laterais e fundo da cabina, em cor contrastante com os painéis; adequação da altura dos botões; revestimento do piso da cabina em superfície dura e antiderrapante, em cor contrastante com a cor de acabamento do piso do hall.

Este é um momento de transformações em tecnologias e métodos de produção. O que mudou desde a época em que o senhor se formou?
Em minha opinião mudou muita coisa e, ao mesmo tempo, alguns aspectos não se alteraram. Do ponto de vista de tecnologias e métodos de produção temos uma infinidade de ferramentas, metodologias e dispositivos de mensuração e controle que não existiam quando me formei, há 25 anos. A base tecnológica era incipiente em várias dimensões como, por exemplo, a capacidade dos computadores. Recordo-me de empresas e instituições com salas enormes para abrigar as suas centrais de computação, e com profissionais especializados nas manutenções. Hoje, não existem mais as salas e tampouco os profissionais, e arrisco dizer que a capacidade de cálculo daqueles conjuntos de computadores seja próxima ou equivalente à do computador pessoal atual.
De forma análoga, acredito que nos próximos anos seremos testemunhas de outras transformações tecnológicas importantes, pois a plataforma tecnológica evoluiu, permitindo novos desenvolvimentos e interfaces entre homem e máquina. Há muita discussão sobre o impacto dessas mudanças na sociedade. Entretanto, mesmo com o desenvolvimento tecnológico e o acesso ao conhecimento e às ferramentas, a questão comportamental não se alterou.
Acredito fortemente que o profissional do presente e do futuro precisa ter habilidades para trabalhar em equipe, estar apto a entender e se fazer entender sobre aspectos culturais com um espírito aberto para o mundo, ter atitude positiva e ser resiliente para enfrentar os desafios, entre outras dimensões, para fazer diferença nas instituições. Estes aspectos, que a literatura denomina soft skills, permanecem indiferentes às transformações tecnológicas.

Qual é o papel das universidades na formação de profissionais adequados à nova realidade das empresas?
A ‘mão invisível do mercado’ (termo introduzidopor Adam Smith em A Riquezadas Nações) cria condições de competiçãoem que o mais adaptado e eficiente se destaca e estabelece um padrão, quase como uma evolução das espécies. A indústria brasileira está inserida nas cadeias de suprimentos e manufaturas mundiais e precisamos ter plena ciência desse fato, pois o mercado sempre buscará o mais eficaz, o mais produtivo, o mais ágil, em uma competição sem fim.
Há uma procura incessante pela melhor solução, e quem não for capaz de responder a esse chamado corre o risco de se tornar obsoleto nesta trajetória. O papel das universidades é criar condições para que o profissional tenha consciência da necessidade de se reinventar continuamente, de se manter atualizado sobre o que acontece no mundo, tanto na sua disciplina como em áreas correlatas, além de manter acesa a chama da curiosidade intelectual. Neste ponto, as universidades são um fórum natural de convergência para multiplicar essas sinergias, mas não tenho dados ou informações se esse potencial tem sido explorado como deveria. Tenho apenas um sentimento de que estamos aquém do que poderíamos.

Qual foi a importância da sua formação ter ocorrido na FEI?
Acredito que a instituição de ensino tem uma forte influência na transformação do estudante de Engenharia em um profissional da área, sem desprezar as questões como personalidade, valores individuais e curiosidade intelectual. Durante a minha carreira tive a oportunidade de acompanhar algumas turmas de estagiários de Engenharia e notei que tinham atitudes diferentes para os mesmos problemas – mais uma vez, características individuais também fazem parte desta equação. Mas observei que, em geral, o estagiário da FEI tinha uma atitude hands on que, de maneira generalizada, cria uma liderança natural pelo exemplo, habilidade que particularmente aprecio muito, pois demonstra interesse pelo outro e compartilha das dificuldades e oportunidades com o time. Acredito que me encaixo nesta descrição. Tenho ciência de que a FEI influenciou na minha formação de maneira positiva e sou muito orgulhoso de ser ex-aluno desta instituição de ensino.

Como o senhor resumiria sua trajetória profissional?
Iniciei minha carreira como estagiário de Engenharia na Voith, uma empresa alemã fornecedora de equipamentos e tecnologia para a indústria de papel e celulose. Ali, ocupei posições em áreas como Engenharia de Processos, aplicação e vendas técnicas, gerenciamento de projetos, entre outras. Também tive uma passagem pela Vale, na área de suprimentos de projetos de capital. Todas essas experiências me ajudaram a formar uma visão mais holística de negócio. Aliado a essas experiências, sempre me dediquei de forma genuína às minhas obrigações, sempre fiz o meu melhor todos os dias. Não acredito que houve um grande fator preponderante que me conduziu à presidência da Atlas Schindler, mas a soma de experiências e a dedicação de fazer o meu melhor todos os dias me permitiram chegar nesta posição.

De que maneira a Engenharia o ajudou a desempenhar suas atividades nesses diferentes campos?
A formação em Engenharia nos faz pensar de forma lógica. Partindo desta premissa, afirmo que a percepção de que um engenheiro somente pode trabalhar em áreas técnicas é uma falácia. Muitas situações, ao longo da minha carreira, exigiram mais um pensamento lógico e bom senso na busca de uma resolução para um problema do que uma solução estritamente técnica. Muitas empresas já perceberam que o engenheiro possui habilidades e competências em áreas administrativas também e, por essa razão, essas instituições aplicam uma metodologia de desenvolvimento de carreiras em Y, nas quais o profissional pode optar por dar continuidade nos aspectos técnicos de produtos e processos ou se desenvolver em atividades de gestão empresarial.
De qualquer forma, esta é uma demonstração de que há espaço para as duas dimensões, técnica e administrativa. Há muito tempo participei de um trabalho de grupo sobre liderança e uma lição que aprendi naquele episódio jamais foi esquecida: o maior ativo das empresas é ter as pessoas certas nos lugares certos. Os profissionais apresentam rendimentos extraordinários quando são alocados em tarefas que permitem expor e desafiar as suas habilidades de forma contínua.

Que conselho o senhor daria para os estudantes de Engenharia?
Preparem-se para o mundo! Acredito que o mundo está em constante evolução e vem se tornando cada vez menor. As novas plataformas tecnológicas permitirão que as empresas operem cada vez mais em escala global. Em um futuro próximo, uma posição nos Estados Unidos será disputada por profissionais da Índia, China, Brasil, só para citar alguns países, sem que necessariamente alguém precise se mudar fisicamente. As empresas ou instituições fornecerão o hardware, como ferramenta, dispositivos, plataformas de comunicação e processos, mas o diferencial estará nas capacidades e competências para trabalhar em equipes multidisciplinares, entender aspectos culturais, ser resiliente para enfrentar situações diversas e ter prontidão para mudanças, entre outras qualidades.

O Schindler Global Award é a premiação mundial da companhia para estudantes. Qual é o objetivo desta ação?
O Schindler Global Award (SGA) é uma competição de design urbano estudantil. Já tivemos sete edições do prêmio, que é realizado a cada dois anos. Com esta iniciativa, a Schindler estimula os alunos a pensarem no tema da mobilidade, que entendemos ser o principal motor das mudanças desejáveis nas áreas urbanas em todo o mundo. Os estudantes concorrem a prêmios que somam US$ 100 mil. O SGA é uma oportunidade para os alunos combinarem suas habilidades e criatividade ao desafio de moldar as cidades de hoje e de amanhã. Com a premiação, a Schindler contribui para estimular o pensamento crítico em relação aos grandes centros urbanos. Acreditamos que isso também seja uma forma de inovar e colaborar com cidades mais desenvolvidas e mais inteligentes para seus habitantes.

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