Um novo evento astronômico voltou a chamar a atenção de especialistas, curiosos e também da imprensa nesta semana. E desta vez, o acontecimento foi registrado bem aqui, no Brasil. Na última sexta-feira (14), um meteoro atingiu a atmosfera da Terra e foi visto por moradores do Triangulo Mineiro e Alto Paranaíba. Segundo alguns moradores da região, em sua passagem, o fenômeno deixou um rastro de luz, seguido de um estrondo.
De acordo com dados da Bramon (Rede Brasileira de Observação de Meteoros), a rocha espacial atingiu a atmosfera da Terra em um ângulo de 38,6º em relação ao solo e percorreu cerca de 109,3 km em 9 segundos. O material despareceu a 18,3 km de altitude entre os municípios de Perdizes e Araxá.
O tema virou notícia no Jornal da Band News 2º edição, que conversou com o professor Cássio Barbosa, astrofísico da FEI, para entender mais sobre fenômeno. Em entrevista, o professor explicou aos telespectadores algumas das curiosidades sobre os meteoros, como estes materiais são formados e porque essas as explosões podem ou não ocorrer em locais de impacto.
Confira a seguir a entrevista ping-pong feita com o professor da FEI.
Band News: O que faz com que um meteoro seja visto em Minas Gerais e em SP?
Professor Cássio: O que aconteceu no Triângulo Mineiro foi a entrada de um material que estava em órbita. Não sabemos ainda se foi um meteoro clássico (um pedaço de rocha ou asteroide) ou se foi mesmo um lixo espacial. Mas ele foi muito brilhante, porque quando chega em nossa atmosfera, essa peça acaba entrando em atrito e esquenta muito. Com isso, essa peça pega fogo, até evaporar mesmo o material, formando uma bolha de plasma em volta, provocando o clarão. Claro que isso depende do tamanho do material. Mas, pelo visto, o que caiu em Minas Gerais foi uma coisa relativamente grande que formou essa bola de fogo e ficou visível para várias cidades.
Band News: Do que ele é formado e quanto tempo leva para a formação de um meteoro? Por que eles caem?
Professor Cássio: Na língua portuguesa, definimos o meteoro como um fenômeno atmosférico. Enquanto nós vemos aquele brilho no céu, nós podemos defini-lo como “meteoro”. Quando ele atinge a atmosfera, se essa peça, esse corpo, sobrevive ao atrito e atinge a superfície, passa a se chamar “meteorito” e muda de nome. Então, por enquanto, nós o consideramos como meteoro. Mas nós já sabemos que ele atingiu a superfície por conta de um registro de um microssismo/microterremoto dos observatórios de sismologia da USP. Então, agora há uma busca por esse meteorito. Ele pode ser também um lixo espacial. Não sabemos ainda, mas ele deve ser o pedaço de um asteroide ou pedaço de um cometa, que fica vagando pelo Sistema Solar e que, de vez em quando, se ele se aproxima muito da Terra, a nossa gravidade o atrai e captura. Depende, então, do ângulo, da velocidade e da posição. Ele pode deixar um rastro bem grande no céu, com várias cores. Nos registros atuais, é possível ver um brilho branco, mais puxado para o azulado, em que já é possível identificar qual é o tipo do material químico desse meteoro que entrou na atmosfera.
Com relação ao tempo da sua formação, essas rochas, na verdade, são pedaços de asteroides, que se formaram quando o Sistema Solar estava se formando. Então, você pode colocar aí, por baixo, 4 bilhões e meio de anos. Então, esse meteorito contém informações importantíssimas sobre a formação do próprio Sistema Solar.
Band News: Nestas buscas, qual tipo de material pode ser encontrado e qual o raio aproximado para essas demarcações?
Professor Cássio: Isso depende de novo daquela trajetória do material na atmosfera, velocidade, etc. E ele pode explodir ou não. Se ele explodir, a área de busca será muito grande devido aos fragmentos que podem se espalhar. Se ele não explodir, pode atingir o solo e ter tamanhos desde uma pedrinha pequena ou uma pedra do tamanho do nosso punho fechado, por exemplo. Não vai causar grandes estragos, é um fenômeno inofensivo e uma boa relíquia para se ter na prateleira. E claro, se você o encontrar, é importante que você entregue, pelo menos uma parte dele, para que os cientistas possam fazer estudos sobre o que ele é feito.
Band News: E trazendo referências ao filme “Não Olhe para Cima”, como nós podemos relacionar a ficção com a realidade?
Professor Cássio: Em comparação com o que nós temos, um asteroide como neste caso do filme, uma estrutura que vem realmente para destruir a Terra, que eles chamam de “planet killers” (assassinos de planetas, na tradução em português), essa categoria envolve asteroides que tem 1 km ou mais de tamanho. Esse que caiu em MG deve ter uns 10 cm, ao observar pelas imagens. Pode ver que é uma diferença muito grande de tamanho. Mas esses planet killers, assassinos de planeta, todos que a gente tem no Sistema Solar já são conhecidos, justamente porque eles são grandes e fáceis de enxergar. Nós já sabemos as órbitas, em qualquer horário da semana ou do dia, nós sabemos qual é a posição e que todos eles vão passar longe o suficiente para não causarem problema nenhum.
Para conferir a entrevista completa realizada ao vivo no canal da Band News, basta clicar aqui. Mais informações e análises do professor Cássio Barbosa também podem ser acessadas por meio do site da FEI, na coluna Observatório.