*Jacques Demajorovic
O aquecimento global está diretamente ligado a um longo processo que se intensifica a partir da Revolução Industrial, que estabeleceu uma nova sociedade baseada no crescimento contínuo da produção e consumo. Esse novo sistema se tornou cada vez mais dependente dos combustíveis fósseis, como o carvão, o gás natural e os derivados de petróleo – gasolina, óleo diesel, óleos combustíveis, entre outros. A queima desses combustíveis significa a emissão de gases do efeito estufa (GEE) para a atmosfera.
Da mesma forma, o desmatamento ilegal praticado por organizações agrícolas que não respeitam as normas ambientais também tem contribuído significativamente para o processo de aquecimento global. O carbono presente na forma sólida na vegetação é transferido para atmosfera ao assumir sua forma gasosa em função da expansão das queimadas.
As consequências do aquecimento global também são bem conhecidas, destacando-se o degelo das calotas solares, mudanças no clima e regime de chuvas, a menor disponibilidade de água e impactos negativos na produção agrícola.
Nesse cenário, para evitar ou minimizar os efeitos do aumento da temperatura do planeta, o caminho é tomar medidas urgentes para evitar a concentração de CO2 na atmosfera – dentre os vários gases que contribuem para o aquecimento global, o principal é CO2, que representa cerca de 60%.
Para avançarmos nessa direção é necessário migrarmos para processos que favoreçam a descarbonizarão da economia. No entanto, uma transição para uma economia de baixo carbono não é em nada trivial ou simples, pois é necessário transformar efetivamente discurso em prática. Teremos que ir muito mais longe do que mudanças pontuais em atividades econômicas como ecoeficiência de processos e maior coleta e reciclagem de materiais. Será preciso alterar os modelos de desenvolvimento dos países, que terão de abrir mão de fontes de energia como petróleo e carvão. Será preciso assegurar inovação radical e não apenas incremental nos ganhos de eficiência energética e de água, e ainda, transformar a cultura do consumo como um indicador de felicidade e realização.
A economia de baixo carbono exige novos modelos de negócios que promovam a desmaterialização da economia, exige migrar da posse do produto para o uso de serviço. Deveremos ser a geração que terminará com os combustíveis fósseis, pois ele representa a economia do século passado e em termos de racionalidade econômica, ambiental e social, essa tecnologia não fará mais nenhum sentido.
Energia solar, eólica, carros e bicicletas elétricas, economia compartilhada são algumas das características dessa nova economia que paulatinamente vem construindo um mundo da economia de baixo carbono, que tem outra energia e outros modelos de negócios.
*Prof. Dr. Jacques Demajorovic é pesquisador do Programa de Pós-graduação em Administração da FEI e coordenador dos grupos de pesquisa sobre Licença Social para Operar e de Logística Reversa/CNPQ.