Cássio Barbosa*
Destino Lua!
Definitivamente a colonização da Lua entrou na ordem do dia das principais agências espaciais do mundo. O tão anunciado processo de volta à Lua pela NASA através da missão Artemis, que promete pousar em nosso satélite por volta de 2025, ganhou companhia essa semana. Os diretores das agências espaciais da China e da Rússia assinaram um acordo para juntos desenvolverem um programa que permita estabelecer uma estação lunar conjunta nos anos 2030.
A China, hoje, tem a agência espacial mais eficiente e bem sucedida do planeta. Seu programa espacial é bem pragmático, além de muito fechado. Os objetivos da CNSA, a agência espacial chinesa, são estabelecidos a cada 5 anos, junto com um rígido cronograma de desenvolvimento das etapas intermediárias que a levem a cumprir essas metas dentro dos prazos. Essa metodologia foi iniciada depois que uma sonda chinesa, que iria a Marte em 2011, foi perdida porque o veículo russo que a levava sofreu uma pane ainda em órbita terrestre e a missão.
A partir desse incidente, a CNSA deu total prioridade para produzir seus próprios lançadores, começando com os mais leves, capazes de lançar cargas pequenas em órbitas mais baixas. Com o sucesso dos primeiros foguetes ‘Longa Marcha’, como são chamados, a China partiu para o desenvolvimento de foguetes mais robustos capazes de transportar mais carga a orbitas baixas, ou cargas menores ao espaço profundo. E por espaço profundo entenda a Lua e Marte, por exemplo.
Em paralelo aos seus lançadores, a China desenvolveu e construiu sondas cada vez mais sofisticadas para pousar na Lua e, com sua série de módulos Chang’e, conseguiu pousar uma estação fixa que carregava um pequeno jipe lunar. Mas conseguiu feitos ainda mais impressionantes, como pousar no lado oculto da Lua - levando outro jipinho - pela primeira vez na história e no início deste ano, enviar uma sonda que recolhesse e enviasse amostras do solo lunar pela primeira vez em quase 50 anos! Tudo isso conseguido sem nenhuma falha ou contratempo. Para completar, no começo de fevereiro, uma sonda chinesa conseguiu entrar em órbita de Marte com sucesso e até maio deve tentar um pouso com um módulo de pesquisas que carrega também, adivinhe, um jipinho marciano! Se o pouso for bem sucedido, a China será a segunda nação na história a conseguir esse feito e a primeira a ter uma missão completa, com orbitador, módulo de pouso e jipe operando.
A China é proibida por lei de colaborar com os EUA em seu programa espacial, de modo que precisa desenvolver tudo sozinha. Até mesmo estação espacial a China precisa ter a sua, sem poder colaborar com a estação internacional. E por falar nisso, a China já teve duas pequenas estações e está construindo a terceira.
Agora com a volta do foco em colonizar a Lua, a China se lança no projeto de construir uma estação permanente que eventualmente seja capaz de abrigar taikonautas (como são chamados os astronautas chineses), mas que não deve ser habitada o tempo todo. Esse projeto sim, será executado em conjunto com a agência espacial russa Roscosmos e depois da formalização da parceria, a agência espacial europeia ESA se interessou em colaborar também.
A estação serviria de preparação para a construção de uma base no polo sul lunar, onde pesquisas recentes mostraram a existência de grandes reservas de água na forma de gelo trazido pelos impactos de grandes cometas no passado. A existência de água para manter uma base espacial em qualquer lua ou planeta é algo fundamental para seu sucesso. Tanto água para consumo dos habitantes, como também para produzir hidrogênio (usado como fonte de energia) e oxigênio.
Por enquanto não foram divulgados maiores detalhes, além da intenção de pousar os primeiros módulos da estação já na próxima década. Mas veja que a união da agência espacial mais bem sucedida da atualidade com a agência espacial mais tradicional do mundo nos permite imaginar que esse projeto vai sair e deve ser muito bem sucedido também.
Cássio Barbosa é astrofísico e professor no Centro Universitário FEI*