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Detectando vizinhos na nossa galáxia

Detectando vizinhos na nossa galáxia


  05/03/2021

Cássio Barbosa*

 Uma das perguntas que acompanha a humanidade há séculos é se estamos sozinhos no universo. No universo todo é impossível sabermos, mas na Via Láctea, pertinho do nosso Sistema Solar é possível saber. Ou pelo menos tentar.

 Há décadas os astrônomos e mais recentemente os astrobiólogos estudam uma maneira de detectar a presença de vida em sistemas planetários. Por enquanto, dada a limitação de nossa tecnologia, precisamos nos contentar com sistemas planetários relativamente próximos. Mas você já parou para pensar em como isso seria possível?

 A primeira ideia foi observar sistemas planetários em ondas de rádio e com isso nasceu o projeto SETI (Procura por Inteligência Extra Terrestre, na sigla em inglês). Mas não seria o caso de os alienígenas estarem tentando nos enviar mensagens de rádio, mas sim tentar “ouvir” suas próprias transmissões. Pense na Terra, estamos usando ondas de rádio para nos comunicar e transmitir dados já há mais de cem anos. Seja rádio, TV ou micro-ondas para comunicação via satélite e toda essa radiação está vazando pelo espaço. Uma civilização com o mesmo nível de tecnologia poderia estar fazendo a mesma coisa.

 Outra proposta é usar as tecnoassinaturas, que são as marcas deixadas na atmosfera de um planeta, quando seus habitantes alcançam sua industrialização, ou o uso de combustíveis fósseis, por exemplo. Desde que a humanidade entrou na sua era industrial, tem jogado na atmosfera muito CO2, como bem sabemos, mas também outros gases como o CFC, NO2, SO2 e vários outros. Não é um absurdo imaginar que outras civilizações possam estar fazendo o mesmo e, observando-se a atmosfera de outros planetas, seria possível identificar essas espécies químicas. É preciso tomar cuidado que algumas delas, como o NO2 e o SO2 são injetados na atmosfera de forma natural, através de vulcanismo, mas modelos de evolução química da atmosfera podem dar conta disso.

Mas e os casos que haja vida, mas que não tenha ainda atingido esse nível tecnológico? Veja que uma civilização extraterrena que estive usando esse tipo de estratégia para nos encontrar, só teria êxito se nos observasse nos últimos 150-200 anos. Antes da revolução industrial não haveria qualquer tecnoassinatura em nossa atmosfera.

Nesse caso, os astrônomos procuram por bioassinaturas, ou seja, desequilíbrios químicos na atmosfera que são explicados pela ação biológica. Usando-se a Terra como exemplo, com o surgimento de bactérias e algas que conseguem fazer fotossíntese, a atmosfera terrestre ganhou oxigênio. A percentagem de gás carbônico caiu muito e, mais importante, a quantidade de oxigênio permaneceu estável. Com bastante oxigênio disponível, surgiu ozônio também.

A questão principal nem é a existência em si do oxigênio, mas sim de sua manutenção na atmosfera. Oxigênio molecular (O2) e ozônio (O3) são rapidamente destruídos pela radiação UV do Sol, formando oxigênio atômico. Como o oxigênio é muito reativo, rapidamente ele se recombinaria com materiais como o ferro e o cálcio no solo e sumiria da atmosfera. Foi o que aconteceu com Marte, que teve seu oxigênio todo “sequestrado” pelo ferro do solo, deixando-o “enferrujado”. Se um planeta tem oxigênio em abundância, significa que deve existir algum processo biológico para mantê-lo de forma estável na atmosfera. O mesmo raciocínio é usado para o gás metano, que pode ser produzido por processos geológicos, mas só existe em quantidade e de forma estável por causa do metabolismo de bactérias anaeróbicas.

Por enquanto, investigar atmosferas de outros planetas é ainda um desafio tecnológico. Estamos agora começando a investigar alguns poucos casos e mesmo assim são planetas que lembram muito Júpiter, sem chances de abrigar vida. Mas com o iminente lançamento do James Webb, o novo telescópio espacial da NASA, isso deve melhorar.

Por ora, precisamos continuar stalkeando as estrelas vizinhas mesmo. Recentemente, um grupo de astrônomos monitorou 31 estrelas de nossa vizinhança

parecidas com o Sol usando um radiotelescópio de 100 metros nos EUA. Eles conseguiram detectar 26.631.913 sinais de rádio vindos dessas estrelas. Depois de analisá-los um a um, não restou nenhum suspeito. Em outras palavras, todos esses mais de 26 milhões de sinais têm origem em processos físicos das próprias estrelas.

Por enquanto, infelizmente, a resposta para aquela pergunta lá do início é não sabemos. O lado bom disso é que a pergunta ainda não tem resposta definitiva o que nos dá muita esperança de poder respondê-la nos próximos anos.

Cássio Barbosa é astrofísico e professor no Centro Universitário FEI*