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Corrida Espacial: sondas lançadas por países estão perto de alcançar o planeta Marte

Corrida Espacial: sondas lançadas por países estão perto de alcançar o planeta Marte


  12/02/2021

Cássio Barbosa*

 Chegou a hora!

Finalmente acabou a espera e as sondas lançadas em julho do ano passado estão chegando a Marte. Lembra que eu mencionei que a cada 2 anos mais ou menos, as posições orbitais da Terra e Marte tornam a viagem mais curta e rápida? Pois então, a janela de oportunidades que aconteceu em 2020 propiciou o lançamento de 3 sondas: a Al-Amal, dos Emirados Árabes Unidos (EAU), da Tianwen-1 da China e o Perseverance dos EUA. Depois de 7 meses de viagem, as sondas estão aportando em Marte.

 A primeira a chegar foi a sonda dos EAU que no último dia 9 de fevereiro fez sua inserção orbital. Essa manobra consiste em disparar seus foguetes de modo a diminuir a velocidade da sonda de forma bem drástica. Com essa freada brusca a gravidade do planeta consegue capturar a sonda e, após ela fazer uma curva por trás do planeta, faz com que entre em órbita do planeta. Depois de mais algumas queimas, como se diz no jargão da astronáutica, a órbita final é estabelecida e a nave começa a executar sua missão científica.

 Depois da Al-Amal, foi a vez da sonda chinesa entrar em órbita do planeta vermelho, no dia 10. Enquanto a manobra da sonda árabe pode ser acompanhada desde o centro de controle da missão em Dubai, a manobra da Tianwen-1 só foi percebida através do monitoramento do seu sinal de rádio por uma antena na Alemanha!

 A China nunca fez muita questão de transmitir seus feitos espaciais e a maioria de suas conquistas foram noticiadas através das redes sociais chinesas. Só assim o ocidente ficou sabendo do pouso no lado oculto da Lua, por exemplo. Dessa vez nem isso e apenas quando essa antena alemã mostrou o desvio Doppler sofrido pelas ondas de rádio é que ficamos sabendo que a sonda estava reduzindo sua velocidade. Em seguida seu sinal desapareceu por causa da curva por detrás de Marte para 11 minutos depois ressurgir, conforme o previsto pelos cálculos. No final das contas, a manobra foi um sucesso! Já temos 2 novos visitantes em órbita marciana e dia 18 agora chega o terceiro.

 Mas você deve estar se perguntando, por que tanto interesse em Marte?

 Marte vem a ser, acredite, o planeta mais similar à Terra em nosso Sistema Solar. Isso faz com que ele possa abrigar ou ter abrigado vida em seu passado. Além disso, é o planeta mais promissor para estabelecer uma base permanente. Olha só.

 Mercúrio é inviável por causa de sua proximidade com o Sol. O pior nem é a temperatura que atinge uns 200º C na face iluminada, mas com a ausência de atmosfera faz com que a parte não iluminada de uma rocha, por exemplo, tenha temperatura de -150º C. Não há material que aguente essa diferença por muito tempo. O problema maior é, no final das contas, a radiação solar, tais como raios-X, UV e partículas carregadas. A Terra possui campo magnético e atmosfera que atuam como um escudo contra isso tudo. Mercúrio não tem.

 Vênus tem um problema sério: atmosfera. Nesse caso, uma atmosfera majoritariamente composta por CO2, mas com pitadas de SO2 que misturados à pouca água forma ácido sulfúrico. Além disso, a pressão atmosférica em sua superfície é igual a 90 vezes a pressão atmosférica terrestre. Para finalizar o panorama nada agradável, a temperatura atmosférica fica em constantes 460º C. O suficiente para derreter chumbo!

 Com isso chegamos a Marte (os demais planetas, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno são gasosos). Marte possui uma fina atmosfera, coisa de 1% da atmosfera terrestre, sua temperatura pode variar de congelantes -100º C a até mesmo 30º C em alguns lugares. Ou seja, temperaturas em que a água pode permanecer líquida em condições especiais, como no subsolo por exemplo. Marte tem água, tanto na forma de gelo em suas calotas polares, quanto aprisionada no permafrost, uma espécie de argila congelada que existe abaixo da superfície. Só isso faz de Marte um alvo muito interessante para a astrobiologia.

 Para que possa haver vida, é necessário existir um meio líquido que permita trocas ao nível celular. Tanto para que substâncias que sirvam de alimento possam alcançar as células, quanto para transportar para longe os subprodutos do seu metabolismo. Água é um meio muito eficiente para essa tarefa, por isso o mote da astrobiologia é ‘procure por água’.

 Marte possui gelo de água, que não funciona para esses propósitos, mas em algumas condições já foi observado que ele derrete formando sulcos nas bordas de penhascos e crateras. Além disso, a própria topografia marciana mostra claramente que havia água em abundância em um passado recente, coisa de menos de 200 milhões de anos. Com isso, surgem pelo menos 2 perguntas a serem respondidas: Marte tem (ou já teve) vida? O que aconteceu para o planeta ter perdido sua atmosfera primordial que fizesse perder quase toda água? Isso é de particular interesse para saber se corremos o mesmo risco...

Por essas e outras questões é que Marte atrai tanto a atenção de cientistas de várias áreas, desde astrobiólogos a geólogos.

No próximo dia 18 chega a última sonda que, na verdade, traz um jipe e um pequeno helicóptero. O jipe, batizado de Perseverance, deve fazer estudos mais voltados a essa questão de procura de vida, inclusive coletando e separando amostras para depois serem recuperadas e enviadas à Terra por missões subsequentes. A ele, deve se juntar um jipinho chinês que chegou de carona com a Tianwen-1, mas que só deve pousar entre maio e junho deste ano. Considerando que já temos o jipe Curiosity da NASA, lá pelo meio de 2021 haverá 3 jipes perambulando na superfície de Marte!

Se você quiser acompanhar o pouso do Perseverance eu estarei no canal do Mensageiro Sideral no Youtube no dia 18 a partir das 17 horas. Cola lá!

Cássio Barbosa é astrofísico e professor no Centro Universitário FEI*