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À frente de um negócio em plena expansão

À frente de um negócio em plena expansão


  09/04/2018

Formado em Engenharia de Produção Mecânica, em 1985, no Centro Universitário FEI, Mauro Luis Correia é hoje presidente da Caoa, uma das maiores empresas do setor automobilístico do País, que acaba de anunciar uma parceria com a montadora chinesa Chery

Com mais de 30 anos de experiência nos setores automobilístico, têxtil e de tecnologia, o engenheiro de produção mecânica formado pela FEI Mauro Luis Correia é, desde dezembro de 2016, presidente da Caoa, um dos maiores grupos automotivos do País.

A empresa está em um momento de expansão. Em novembro, foi anunciada a compra da operação brasileira da montadora chinesa Chery, formando a Caoa Chery, com sociedade 50% brasileira e 50% chinesa, que prevê o intercâmbio de tecnologias exclusivas e um investimento de dois bilhões de dólares nos próximos dois anos.

Este é um grande reconhecimento para um negócio brasileiro. A Caoa foi criada em 1979 por Carlos Alberto de Oliveira Andrade, que havia comprado um Landau em uma concessionária da Ford em Campina Grande (PB). A revenda, porém, faliu pouco tempo depois, e Carlos Alberto fez uma proposta: assumiria a empresa para compensar o pagamento do veículo. Em menos de seis anos, a Caoa se tornou a maior revendedora Ford do Brasil.

Ao longo dos anos, a empresa foi a responsável pela entrada de grandes marcas no Brasil, como Renault e Subaru. A parceria com a Hyundai surgiu em 1999, quando a Caoa passou a ser a importadora exclusiva da marca no Brasil e, por conta do sucesso no mercado, o grupo Caoa inaugurou em 2007 uma moderna fábrica em Anápolis (GO), que produz alguns modelos da Hyundai.

Além de estar à frente do grupo Caoa, Mauro também é presidente da SAE Brasil (Sociedade de Engenheiros da Mobilidade) para o biênio 2017/2018, sucedendo Frank Sowade, que também foi aluno da FEI.

Em entrevista para a revista Domínio FEI, Mauro conta como a sua formação acadêmica e a busca pela atualização constante de seus conhecimentos contribuiu para uma trajetória profissional de sucesso. Segundo o executivo, fazer o que gosta com dedicação e comprometimento, agarrar todas oportunidades e não recusar desafios são alguns dos pontos indispensáveis para uma carreira brilhante e feliz.

Qual foi a importância da FEI em sua formação?

A FEI foi responsável por toda a minha base técnica. Além disso, sempre foi uma universidade muito bem aceita no mercado, principalmente pela indústria automotiva. Sem dúvida, a FEI orientou a minha carreira. Ou seja, me preparou para a início da vida profissional.

Por que escolheu o curso de Engenharia de Produção Mecânica?

Desde pequeno eu gostava de carros. Meu pai tinha uma loja de autopeças e acredito que isso tenha despertado meu interesse para o segmento automotivo. Com 11 anos, eu já falava em ser engenheiro. E pode parecer engraçado, mas sempre tive o sonho de fazer FEI. Passei em outras universidades, mas a escolha já estava feita antes do vestibular.

Conte um pouco da sua trajetória acadêmica.

Acredito que o espaço da universidade é muito rico para qualquer profissional, de qualquer segmento. Além disso, é muito importante estar atualizado para acompanhar o mercado. Assim que me formei, fui atuar na Ford, na área de qualidade. Fui então indicado para fazer um curso nesse segmento. Logo após, ajudei um grupo da empresa a criar, junto a uma importante universidade de São Paulo, um curso de Administração, focado no setor automotivo.

Concluí um mestrado na Universidade de São Paulo e recebi uma bolsa, também da Ford, para participar de um curso sobre ambiente industrial, no Japão. Na sequência fui selecionado, junto a mais três colegas, para um MBA nos Estados Unidos, na Michigan University. Agarrei todas as oportunidades que tive para aprimorar meus conhecimentos.

Sobre a sua trajetória profissional?

Atuei por 20 anos na Ford. Iniciei a carreira como estagiário e cheguei ao cargo de gerente executivo. Depois, trabalhei na Volkswagen como diretor de operações. Nos cinco anos seguintes, estive à frente de duas empresas do setor de tecnologia: na Nokia, como diretor de operações, e na Semp Toshiba, como vice-presidente. Após esse período, fui para a Scalina Group como COO. Estou na Caoa há quatro anos, sendo que há um ano assumi a presidência da empresa.

Estamos em um momento de transformações muito dinâmicas nos métodos de produção. O que mudou da época em que o senhor se formou em Engenharia Industrial até agora?

Muita coisa. Podemos observar mudanças desde a forma de produção e gestão até o relacionamento com o cliente. As indústrias estão muito mais conectadas e o cliente mais exigente. O tempo mudou e, com isso, a forma de pensar, de desenvolver e produzir um veículo também. Hoje temos mais tecnologia e, consequentemente, mais qualidade e segurança.

O senhor atuou em grandes empresas do setor automotivo e de tecnologia. Qual a dica para crescer dentro de uma grande corporação? Quais os diferenciais que um profissional precisa ter?

Primeiro de tudo é preciso estar sempre aberto a novas experiências. Além disso, comprometimento e adaptabilidade são características importantes. Ou seja, o profissional precisa ter vontade para se adaptar a novas situações. Eu nunca rejeitei nenhuma função ou tarefa, e acredito que este seja um diferencial importante. É preciso ir atrás de novos desafios, ser flexível, dedicado e atualizado. Eu, por exemplo, em dois ou três anos mudava de posição e sempre estava disposto a me atualizar.

Em um setor competitivo como o da Caoa, como uma empresa pode se destacar? Quais as tendências e expectativas para esse setor?

O grande desafio para os engenheiros que estão se formando é a velocidade com que as coisas acontecem. Há uma tendência de atualização muito maior do que na época em que me formei.

Outro ponto é a rápida transformação do setor. Em breve teremos novas maneiras de comercializar carros e os automóveis passarão por uma “mutação”. A realidade do carro autônomo e elétrico, por exemplo, deve acontecer mais rápido do que o mercado espera. Devemos ter novas formas de utilizar os meios de transporte, haverá mais opções para os consumidores.

A Caoa cresceu muito nos últimos anos. Como o senhor avalia esse crescimento e sua contribuição?

Estou na Caoa há quatro anos. Três deles como vice-presidente e um como presidente. Minha contribuição se dá na liderança de grupos que são responsáveis por fazer a empresa crescer. Ninguém faz nada sozinho. As coisas só acontecem com um grande time.

Quais os principais desafios do cargo de presidente de uma grande empresa?

O desafio é justamente a liderança e a motivação dos demais funcionários. É preciso também planejar e visualizar o futuro. O segredo de uma grande equipe é a mescla de profissionais maduros e experientes com jovens competentes e ousados.

De que maneira a formação em Engenharia de Produção Mecânica, que muitas vezes é tida como extremamente técnica, o ajudou a desempenhar suas atividades? Quais as habilidades necessárias para um cargo de tamanha importância?

A Engenharia Industrial traz uma formação técnica, mas também um pensamento estruturado, processos e o conceito de disciplina. Para ocupar um cargo de destaque em uma empresa é preciso ainda desenvolver conhecimentos em gestão – finanças e contabilidade, por exemplo. E, para isso, há diversos cursos no mercado. Além da formação acadêmica, é muito importante ter a humildade de aprender com profissionais mais experientes e transitar em todos os níveis da organização. Eu aprendo muito com os colaboradores da fábrica. As pessoas precisam ter em mente que você não é presidente. Você está presidente. E você não é especialista em tudo. As conversas constantes com os responsáveis de cada área orientam as minhas tomadas de decisão. Acredito que todos os profissionais são importantes para o sucesso da empresa.

Você imaginou, quando mais jovem, que alcançaria essa posição?

Não. Tudo aconteceu de forma orgânica. Nunca perdi oportunidades. Mesmo sem saber se daria certo, agarrei os desafios. E assim cheguei até aqui. Podemos fazer uma analogia com um ônibus. Quando você dá o sinal, não sabe o que encontrará lá dentro. Se ele estará cheio ou vazio. Pode ser uma excelente oportunidade, ou não. Se achar que não vale a pena, basta dar um jeito de descer.

A chamada Indústria 4.0 é uma realidade que exige profissionais multidisciplinares e soluções completamente integradas. Como você avalia essa questão?

A Indústria 4.0 é sim uma realidade. As empresas precisam se preparar para não ficar para trás. Porém, é importante dosar como a tecnologia será utilizada por cada empresa, saber onde cada organização vai entrar dentro desse contexto.

Que conselho daria para os novos estudantes de Engenharia?

O último ano da faculdade, a formatura, é só o primeiro passo. Os estudos estão apenas começando e são uma base forte para o desenvolvimento futuro. Esteja preparado para se atualizar, sempre. E, por fim, para ter sucesso, além de dedicação, o importante é fazer aquilo que gosta. Não busque apenas retorno financeiro, pois a chance de se tornar um profissional frustrado será grande.