Segundo dados do painel da CNT 2023 (Confederação Nacional dos Transportes), as colisões representam a maioria dos acidentes com vítimas (mortos e feridos) nas rodovias federais brasileiras com um total de 34.687 (61,5%) do total de 56.666 casos registrados. Colisões entre automóveis contra traseiras de caminhões devem receber uma maior atenção pelo risco da ocorrência do efeito de guilhotina entre a estrutura traseira do caminhão (região do para-choque) e os ocupantes dos automóveis. Pensando nesses dados e na seriedade das consequências deste tipo de acidente, alunos da FEI (Fundação Educacional Inaciana Pe. Sabóia de Medeiros) projetaram um novo tipo de para-choque, que envolve alterações geométricas e a utilização de materiais avançados, como os aços TRIP (Transformação Plástica Induzida) e UHSS (Ultra Alta Resistência), além do aço estrutural.
Segundo o professor Jairo de Lima, que é docente do curso de Engenharia Mecânica e orientador do projeto, estes materiais foram escolhidos por suas propriedades superiores de resistência e durabilidade. De acordo com ele, o projeto dos alunos da FEI faz parte de um desafio organizado pela SafeBumpers, startup criada pelos próprios alunos, que propôs um trabalho inovador que visa desenvolver estruturalmente os para-choques traseiros de carretas, tanto em geometria quanto em materiais, com o objetivo de maximizar a segurança. “O projeto busca reduzir a deformação e aumentar a resistência ao impacto dos para-choques, diminuindo o risco de intrusão do veículo durante colisões traseiras”, explica.
Scania, JSL e Thyssenkrupp
Em colaboração com empresas do mercado de caminhões, como a Scania e a JSL, a SafeBumpers obteve dados reais sobre para-choques e carretas, facilitando um desenvolvimento adequado da nova estrutura. Além disso, a parceria com a Thyssenkrupp forneceu suporte em soluções de fabricação e materiais.
A Scania deu suporte com conhecimento das estruturas dos veículos e seus para-choques e apoio técnico para simulações virtuais dos crash tests, além disso foi fonte de informações para as dimensões, normas e legislações para os pára-choques de veículos comerciais. Já a JSL colaborou com informações sobre os tipos de carretas e as necessidades para cada tipo nas diferentes rotas e aplicações no Brasil.
Sobre o projeto
Para atingir seus objetivos, a equipe de sete estudantes do projeto realizou um levantamento das normas aplicáveis, estudos com aços nobres utilizando softwares avançados, além de análises estatísticas dinâmicas e não lineares. A proposta geométrica atual inclui reforços laterais e transversais, além de alterações na espessura da chapa de 2mm para 5mm, adaptando-se às longarinas existentes nos caminhões.
“Nas análises estáticas, o novo para-choque apresentou uma redução de deformação de 37,5% nos pontos mais críticos e um aumento de resistência ao impacto em 205%, permitindo suportar uma velocidade de impacto 77% maior. Nas análises dinâmicas, o para-choque desenvolvido mostrou uma dissipação de energia superior, evitando a intrusão do veículo até o para-brisa, ao contrário dos modelos convencionais” destaca Davi Leal, membro do grupo que projetou o para-choque e aluno de Engenharia Mecânica da FEI.
“Embora o custo do novo para-choque seja mais elevado, passando de R$187 para R$1.658, o aumento é justificado pela segurança aprimorada que oferece”, destaca Jairo de Lima. Os próximos passos incluem a finalização das análises dinâmicas, aprofundamento da análise financeira, exploração de outras espessuras de chapa e a criação de um protótipo funcional em escala reduzida.
A implementação do novo para-choque traseiro desenvolvido pelos alunos da FEI pode significar uma redução significativa nas fatalidades causadas por acidentes com caminhões no Brasil. “Com o apoio de grandes empresas do setor e a utilização de materiais avançados, este projeto tem potencial de transformar a segurança no transporte rodoviário, salvando muitas vidas e reduzindo os custos associados a acidentes veiculares”, complementou o professor. “O trabalho dos alunos foi coroado com a apresentação para o Sr. Luiz Otávio Miranda Maciel, que além de atuar no Ministério da Saúde do Brasil para assuntos relacionados à segurança veicular, desempenha a função de representante do Brasil no comitê mundial de segurança veicular da ONU em Genebra na Suíça” finalizou.