De Marie Curie (descobridora do Polônio e do Rádio) à Kalpana Chawla (primeira indiana a ir ao espaço), a lista de mulheres inspiradoras no campo das ciências é bem extensa. Mas, ainda assim, este continua sendo um universo predominantemente masculino.
Segundo o Censo de Educação superior 2017 (do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), além de representarem menor participação em cursos como Física e Matemática, as mulheres também são minoria em 52 dos 58 cursos de engenharia.
Rivana Marino, que durante 20 anos esteve à frente da vice-reitoria do Centro Universitário FEI e atualmente integra o grupo de docentes do Departamento de Engenharia Química da Instituição, conta que quando se formou, no início década de 80, havia em torno de 8% de mulheres estudando engenharia na Instituição. Atualmente, 4 décadas depois, este percentual subiu para 24%, ainda bem baixo considerando que as mulheres são mais da metade dos matriculados na educação superior no Brasil.
No entanto, Rivana reforça que este cenário não é somente na FEI ou no Brasil. “De maneira geral, de acordo com dados da UNESCO, somente 30% das estudantes selecionam campos de estudos relacionados às STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematic) no curso superior”.
Mesmo com o crescimento lento da participação feminina nas Engenharias, a professora afirma que o mercado de trabalho também está se modificando. “Há algumas décadas, havia discriminação para muitos postos, inclusive com respaldo legal. Muitas oportunidades de trabalho eram exclusivas para os homens, não somente nas áreas de engenharia ou na produção industrial. Haviam, também, questões culturais que levavam à discriminação”.
A engenheira explica também que, embora a mulher ainda tenha muito a conquistar, os movimentos pela diversidade no ambiente de trabalho estão se fortalecendo, para além da equidade de gênero: “a percepção que promover a diversidade nas empresas é uma oportunidade de encontrar grandes talentos parece superar alguns modelos culturais que classificam, sem muitos fundamentos, profissões em masculinas ou femininas”.
A superação destas questões culturais já está começando a se refletir em algumas graduações. “No curso de Engenharia Química da FEI, no qual me formei, a proporção de mulheres desde aquela época é bem maior, em torno de 50% dos estudantes”, conta Rivana.
Atualmente, existem várias iniciativas para garantir que cada vez mais mulheres se interessem pelo estudo das Engenharias e conquistem seu espaço nas graduações e no mercado de trabalho. A Assembleia geral das Nações Unidas, por exemplo, criou em 2015 o “dia mundial das mulheres e meninas na ciência”, como forma de chamar a atenção para o fato de que menos de 30% dos pesquisadores no mundo são do sexo feminino, e ainda para o dado de que 8% das estudantes mulheres se matriculam em áreas de engenharia, construção e manufatura ( UNESCO 2014-2016). “Precisamos construir a imagem de que as áreas de ciências exatas são bons campos de trabalho para as mulheres. A associação da profissão de engenheiro a imagens de mulheres de sucesso, por exemplo, pode ser uma forma de romper com a imagem de que esta é uma profissão masculina”, sugere a professora.
No entanto, talvez mais relevante que a questão de olhar para a situação presente, Rivana afirma que devemos olhar para futuro do trabalho e das profissões. “O mundo moderno está passando por transformações sociais e tecnológicas que começam a impactar os mercados de trabalho, alterando a cada dia a fronteira entre o trabalho feito pelos seres humanos e por máquinas”.
Neste sentido, desenvolver a percepção de que a mulher pode, e deve, se habilitar para os novos desafios colocados pelas profissões do futuro, de forma a contribuir significativamente com seu talento, é algo que precisa ser trabalhado urgentemente.
Profª. Drª. Rivana Marino