O ecossistema de startups no Brasil mostrou uma trajetória de fortalecimento nas últimas décadas. Entre os motivos para este crescimento podemos citar o amadurecimento da cadeia de investidores, políticas públicas voltadas à inovação e ao empreendedorismo e o aumento dos programas de inovação aberta nas empresas, incluindo programas de aceleração corporativa.

Entre as 1000 cidades analisadas no Startup Ecosystem Rankings 2019 da StartupBlink, São Paulo aparece em 23º lugar, Rio de Janeiro em 64º, e Belo Horizonte em 70º. Isto mostra que o ecossistema de startups no Brasil é muito diverso e pode ser considerado um hub global de referência.

O surgimento de startups pode ser vantajoso para a economia nacional?

A dinâmica das indústrias e dos mercados exige cada vez mais flexibilidade e agilidade, mas sem um ecossistema adequado, as startups não conseguem ganhar escala e ter o impacto econômico, social e ambiental que poderiam ter. A qualidade e a quantidade das novas startups é um ótimo indicador da capacidade de inovação, que é fundamental para gerar mais e melhores empregos e oportunidades de negócios no próximo ciclo de mercado.

E, embora uma pesquisa da Startup Farm aponte que 74% das startups fecham após cinco anos. Desse montante, 18% antes mesmo de completar dois anos. No entanto, é importante lembrar que a mortalidade de empresas no Brasil é alta em todos os setores, não apenas nas startups.

Também vale ressaltar que existem diversos tipos de empreendedor - além daquele que quer fazer uma startup para "ganhar o mundo", outros focam no lifestyle, no seu impacto social ou ambiental. Além disso, as carreiras corporativas e públicas tradicionais estão em transformação, assim como as expectativas e os valores dos profissionais mais jovens são diferentes das gerações anteriores.

Estamos presenciando a aparição de várias fintechs. Por que as startups financeiras são uma tendência no Brasil?

O setor financeiro é um dos mais afetados pela transformação digital, pois é baseada na informação. No Brasil, é um setor com empresas fortes que estão inseridas em um mercado interno grande e de regulamentação sofisticada. São Paulo se destaca pelo protagonismo tecnológico e de negócios, que se reflete no número e na qualidade das startups investidas pelas aceleradoras e fundos de capital empreendedor.

Existe ainda muito potencial para aumentar a eficácia da tripla hélice (governo/ empresas/ universidades), mas os casos nacionais e internacionais de sucesso mostram que os laços entre estas três partes precisam ser fortes para ter resiliência a mudanças nos mercados, nas tecnologias e nas gestões públicas e privadas. É muito importante que políticas públicas que foram desenvolvidas nas últimas décadas para inovação e empreendedorismo não sejam descontinuadas e continuem sendo aperfeiçoadas.

Acredito que o aumento do comprometimento estratégico e financeiro das corporações com o ecossistema empreendedor será fundamental para a consolidação de um fluxo crescente de startups alinhadas com as necessidades e os recursos das grandes empresas, o que pode aumentar as chances de conseguir escala. Para as corporações, também é um movimento fundamental, pois "sucesso passado não garante sucesso futuro", especialmente em indústrias que passam por transformações disruptivas.

Em uma época marcada por transformações, é importante que as academias trabalhem em conjunto com as corporações para desenhar projetos de apoio à inovação e ao empreendedorismo, sem deixar de lado as políticas públicas vigentes ou as atuais necessidades da sociedade.

*Luiz Sakuda é professor de Administração no Centro Universitário FEI