Inácio de Loyola, um empreendedor
No Sec. XVI, a Igreja apresenta um quadro bem complexo, fruto que a Idade Média gestou na composição do continente europeu em contraposição com o oriente distante. Por um lado, o poder político atingia o auge de sua glória refém da nobreza; por outro, o domínio do pensamento e da cultura elitista das grandes comunidades religiosas veem-se questionadas pelo franciscanismo e a pregação dos missionários populares. Inácio de Loyola, pessoalmente, tinha como ideal recuperar o status da nobreza perdida.
No vigor de seus vinte anos, frequentava os círculos palacianos em busca de promoção e prestígio, aproveitando-se da relação familiar com o vice-rei de Navarra. Por ocasião do confronto entre casas reais envolveu-se na defesa da fortaleza de Pamplona, sitiada pelos franceses. Além da derrota, essa aventura custo-lhe uma perna quebrada e longa fase de recuperação, no isolamento do castelo, sem outras distrações que as leituras dos romances de cavalaria e biografias de santos. Esse tempo o ajudou a perceber que o ideal de glória e prestígio mundano chegara ao fim.
Chamava-lhe a atenção a vida e os feitos de santos como Domingos e Francisco. Por que não poderia fazer o mesmo? Com a recuperação, fez a mudança de vida. Trocou as vaidades pela vida de peregrino penitente, planejando ir para Jerusalém e estar nos mesmos lugares em que Jesus viveu. Não sendo possível, refez o projeto pessoal. Ingressou na Faculdade de Salamanca, com a intenção de se tornar sacerdote.
A vida universitária proporcionou-lhe contatos e círculos de amigos com os quais compartilhava a experiência que adquirira no conhecimento de si mesmo e no discernimento das forças que interferem no comportamento de uma pessoa. Tinha como referencial a pessoa de Jesus Cristo.
Foi em Paris, com o grupo de colegas amigos da universidade, que se comprometeram num estilo de vida comunitária a serviço da Igreja. Nascia a Companhia de Jesus.
Não foi fácil conseguir a aprovação. O que estava criando quebrava regulamentos canônicos e regras monásticas tradicionais. Estabelecia que os membros deveriam estar livres e disponíveis para qualquer missão ou atividade apostólica.
A Europa estava envolvida pela expansão colonial dos descobrimentos e a Igreja enfrentava a crise da reforma protestante. O segredo do sucesso do empreendimento foi a percepção da importância da fidelidade ao chamado de Deus, traduzido numa generosa atitude de cada um na obediência ao Superior. Os resultados não demoraram a aparecer.
A Companhia cresceu e expandiu-se rapidamente. Os jesuítas destacavam-se nas cátedras de filosofia e teologia, no campo da arte e da cultura. Seus colégios faziam sucesso pela pedagogia própria como também as missões ultrapassavam as fronteiras espalhando-se por as partes do mundo. O que sonhara na convalescença do castelo da família realizou-se de uma forma diferente.
Passaram-se os séculos, as crises e perseguições e a Companhia continua como ontem, seguindo as mesmas diretrizes de seu fundador, Santo Inácio de Loyola, esse basco inquieto, obstinado pela maior glória de Deus, totalmente dedicado à causa de Jesus Cristo e com uma determinação que marcou e marca a Companhia de Jesus.
Tudo para a maior glória de Deus!