Desde o dia 03 de agosto, começou a valer a resolução 807/20, que estabelece uma nova especificação para a gasolina vendida no país. Ela terá um rendimento melhor e permitirá uma maior eficiência nos carros, o que tem um impacto direto no motor. O foco das mudanças estará nas gasolinas tipo C e premium. Em nota, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) informou que boa parte do combustível comercializado já atende a essas novas especificações, que visam melhorar a eficiência energética e emissão de poluentes.
Foi dado um prazo até outubro para as distribuidoras e até novembro para as revendedoras acabarem com os estoques dos produtos antigos. Essa é mais uma etapa do Programa de Controle de Emissões Veiculares (Proconve), promovido pelo Ibama, que visa reduzir progressivamente o impacto ambiental de motores a combustão.
Confira abaixo as principais dúvidas sobre a nova gasolina e como ela impacta o seu dia a dia e o do seu carro:
Quais são as melhorias da gasolina?
São principalmente dois pontos, como explica o engenheiro mentor de Tecnologia e Inovação para Energia a Combustão da SAE Brasil, Everton Lopes. “Principalmente na questão da densidade, em tese, [o combustível terá] mais energia por litro de gasolina comprado. Vai traduzir no final do dia em uma melhor autonomia. Deve trazer o benefício por volta de 3%, 4%, até 5% do consumo atual.
Agora, a densidade mínima é 715 kg/m³. Ou seja: cada litro de gasolina deve pesar, no mínimo, 715 gramas. Não havia essa regra antes. Outro fator é a octanagem, que ajuda o carro a ter um desempenho mais próximo do que ele foi projetado de fato”.
A gasolina brasileira tinha que ter 87 octanas. Agora, segundo as novas regras, a gasolina precisa ter 92 octanas, de acordo com a metodologia RON. Para 2022 esse índice será de 93 octanas.
Everton Lopes ainda explica que os motores funcionarão de maneira mais próxima do que é especificado pelas fabricantes. A gasolina vendida ao público, quando não segue os mesmos padrões das montadoras nos testes, pode não entregar o rendimento esperado. Com a melhoria do combustível, o veículo irá se comportar de maneira mais homogênea.
Quanto vai ficar mais cara?
A política de preços do Brasil dificulta especular quanto mais caro o combustível pode ficar. Entretanto, Everton explica como e onde pode ficar mais cara.
“Uma parcela da gasolina comercializada no Brasil hoje é importada e a outra é produzida aqui. Essa gasolina que vem de fora é de menor qualidade, da especificação antiga. Com essa nova legislação, vamos manter o padrão alto da gasolina interna e importar uma melhor, então sim, vai ter um aumento”, afirma ele.
Com isso, o aumento do preço deve ficar cerca de 3% a 4% maior. No final, de acordo com Everton, o ganho no consumo acaba empatando com o valor pago do ponto de vista financeiro. Mas com uma emissão menor de poluentes, a vantagem ecológica é maior.
Meu motor vai ficar mais limpo?
Apesar de a gasolina ser uma mistura mais homogênea, o responsável pela limpeza do motor são os aditivos da gasolina. A gasolina aditivada possui um detergente dispersor que acaba fazendo esse trabalho, não tendo uma relação tão direta com o tipo de combustível.
Vai ser melhor usar etanol?
O etanol rende, em média, 70% a menos do que a gasolina atualmente. Com os novos padrões, essa relação acaba sendo deslocada em favor do combustível fóssil. “Se a gasolina melhora 3% e o etanol fica onde está, essa relação sobe de 70% para 73%, então o consumidor deve fazer essa conta”, afirma Everton.
Ele também lembra que a sazonalidade do preço do etanol muda conforme a época do ano. Se é o momento de colheita da cana, o valor do combustível cai e concorre mais diretamente com a gasolina.
Vai haver mudança nas gasolinas aditivadas e premium?
“A gasolina aditivada, segue a mesma orientação da gasolina básica, que não muda a característica básica do combustível. Então ela vai ter uma melhoria na mesma proporção da gasolina comum”, afirma Everton.
Ele ainda diz que a gasolina premium já é um combustível de alta qualidade, com padrões altos de comercialização. Esse tipo, indicado para carros de alta performance, vai passar a ter alguns padrões parecidos com a gasolina tipo C, mas já contemplados, como densidade mínima.
Haverá mudanças no etanol e no diesel também?
As alterações em outros combustíveis estão previstas no programa Rota 2030 do Governo Federal, que procura incentivar projetos que aumentem a eficiência dos motores a combustão, visando menor impacto ecológico na mobilidade.
O etanol, que já é um combustível de fonte renovável, não tem mudanças específicas planejadas. Quanto ao diesel, existem projetos de utilização de uma maior parcela de biodiesel na mistura, mas esses ainda são planos que devem afetar o consumidor só em 2023.
O professor do Departamento de Engenharia Mecânica da FEI, Silvio Shizuo, que participa de projetos para desenvolvimento de motores mais econômicos, afirma que os motores flex estão em um caminho de maior eficiência e a nova gasolina é um incentivo ainda maior.
“Os motores flex mais antigos tem uma relação de compressão média, mas têm aumentado para haver uma redução no consumo de combustível, muito em razão do Programa Inovar-Auto", afirma ele.
Esse foi um programa de 2013 a 2017, também do Governo Federal, que colocou incentivos para a indústria automotiva desenvolver motores flex mais eficientes. Isso colocou o Brasil como um dos grandes produtores de tecnologia no setor até hoje.
Ambos concordam que, seja pelo motor ou pelo combustível, haverá um significativo ganho ecológico. Com motores mais econômicos e utilizando uma gasolina mais eficiente, as emissões de CO2 e material particulado podem ter uma queda importante.
“Usar 3% a 5% a menos de gasolina, é lançar 3% a 5% a menos de CO2 no ambiente”, afirma Everton. “Os motores novos podem diminuir a quantidade de combustível que é lançada no motor, isso vai reduzir tanto consumo quanto emissões, que é um ponto muito importante atualmente”, completa Silvio.
Vai ser mais fácil adulterar a gasolina?
Para conseguir fazer uma mistura imperceptível ao consumidor, é preciso que o solvente misturado à gasolina tenha padrões como densidade e polaridade de moléculas próximos ao do combustível. Os mais comuns hoje em dia são materiais inflamáveis, como thinner e solvente de borracha, que acabam danificando o motor.
Assim, com os novos padrões estabelecidos, ficará mais difícil encontrar solventes economicamente vantajosos para adulterar a gasolina.
Fonte: Revista Auto Esporte