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Explosão em Beirute: Por que o impacto foi tão grande?

Explosão em Beirute: Por que o impacto foi tão grande?


  14/08/2020

Especialistas do Centro universitário FEI explicam como o Nitrato de Amônio provocou tanta devastação.

Em 4 de agosto, ocorreu uma megaexplosão na região portuária de Beirute, criando uma cratera de 43 metros de profundidade no local e devastando construções da proximidade. O acidente contabiliza, até agora, quase 200 mortos e cerca de 4 mil feridos, segundo a contagem oficial do governo do Líbano.

De acordo com a professora Marcilei Guazzelli, do departamento de Física do Centro Universitário FEI, em uma detonação como essa a energia é liberada em torno de seu material explosivo, formando uma onda de choque que esta pressão que “varre” tudo o que encontra pela frente. Existem dois fatores muito importantes na propagação desta onda de choque: o pico de pressão e o intervalo de tempo de interação deste pico de pressão com o que encontra em seu caminho. “De acordo com as informações e imagens divulgadas, estimo que, do centro da explosão até um raio de 250 metros, a destruição foi total”, comenta.

A professora explica ainda que a pressão sentida por quem estava em um perímetro de até 150 m pode ter atingido aproximadamente 13 atmosferas, o que equivale a um mergulho a mais de 100 metros de profundidade sem equipamentos de proteção: “ou seja, morte na certa”, explica Marcilei.

O poder de impacto desta explosão química equivale a cerca de 1500 toneladas de TNT, e é comparável a 10% do impacto causado pela bomba lançada em Hiroshima.

Conforme a distância aumenta, a energia da onda de choque se dissipa e, apenas após cerca de 10 km, é possível considerar não ter mais força de destruição (abaixo de 0,01 atm).  Ou seja, os danos são considerados suportáveis. “Como a detonação ocorreu em uma zona portuária, boa parte da energia da onda de choque foi dissipada em direção ao mar, evitando que o desastre fosse ainda maior”, conclui.

Mas o que ocasionou a explosão?

Na região eram armazenadas 2.750 toneladas de Nitrato de Amônio, substância utilizada em diferentes produtos, inclusive e principalmente em fertilizantes, e que pode ter causado a explosão.

O professor Ricardo Belchior, chefe do departamento de Engenharia Química da FEI, explica que o Nitrato é obtido pela reação entre amônia e ácido nítrico e que, em condições normais, não apresenta riscos ao ser-humano. “Mas pelas imagens do acidente, a gente percebe que ocorreu um incêndio no local. Como o Nitrato de Amônio começa a se decompor ao atingir 170°C, liberando gases comburentes, acredito que este incêndio pode ter potencializado a explosão”.

Outro efeito colateral da catástrofe foi a inalação de fumaça tóxica por pessoas que estavam nas proximidades. Belchior ressalta que a fumaça pode mesmo causar danos à saúde, mas em consequência dos gases liberados pela queima de outros materiais e compostos. “O Nitrato de Amônio se decompõe em vapor de água, oxigênio e nitrogênio, que não são tóxicos”, explica.

Como esta é uma substância muito importante para o Brasil (por seu uso em fertilizantes), o professor recomenda que o caso de Beirute sirva de lição para revisarmos a forma de armazenagem do produto. “Em temperatura ambiente, o Nitrato é fácil e seguro de ser armazenado e manipulado, mas ficou ainda mais claro que devemos tomar precauções para que grandes quantidades da substância não sejam afetadas caso ocorra um incêndio no local”, afirma.