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Estamos sozinhos no Universo?

Estamos sozinhos no Universo?


  22/07/2020

O professor de Física da FEI e Astrônomo, Cassio Barbosa tenta nos ajudar a encontrar essa e outras respostas sobre os mistérios fora do Planeta Terra!

Olá pessoal!

Você que gosta de astronomia, admira as estrelas ou a Lua quando tem oportunidade, ou mesmo tem curiosidade por qualquer assunto relacionado ao universo, saiba que este espaço é pensado em trazer cada vez mais conhecimento, curiosidades e informações sobre o assunto. 

E para começar, que tal falarmos de extraterrestres? Calma, não é que nem aquele camarada esquisitão e descabelado da TV, aqui a coisa é séria.

Uma das perguntas que mais atormentam a humanidade é: estamos sozinhos no universo? Outras perguntas interessantes, como “qual a origem do universo” já está muito bem encaminhada. Já o oposto “como vai acabar o universo”, não está tão bem encaminhada assim, mas pelo menos os finais possíveis estão bem discutidos. Outra hora falo sobre isso.

Mas e nós? Temos companhia ou não?

O fato é que não sabemos ainda, mas muita coisa parece apontar para uma resposta positiva. E não se trata de pirâmides, Machu Pichu ou círculos em plantações, mas sim de fatos científicos. Vamos a eles.

A vida como conhecemos é baseada na água. É possível existir outras formas de vida com base em outra substância, como etano líquido por exemplo, mas por ora é isso apenas teoria. Iniciativas para busca de vida são iniciativas para encontrar água em outros ambientes. E não deve ser tão difícil encontrar água, já que ela é a substância mais abundante no universo. Veja só, o elemento químico mais abundante no universo é o hidrogênio, o segundo é o hélio. Mas como o hélio não se combina com nenhum outro elemento, ele não conta para formar moléculas. O terceiro elemento mais abundante, adivinhe, é o oxigênio. Bingo!

Além disso, a base da vida, ou seja, os elementos básicos que permitem formar moléculas complexas como açúcares e aminoácidos, necessita de apenas 5 elementos químicos: carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, fósforo e enxofre. Isso significa que para a vida surgir e se desenvolver não é necessário que o ambiente seja rico quimicamente, dos mais de 100 elementos da tabela periódica, é preciso apenas 5. Claro que estamos falando de organismos simples, para organismos mais complexos é preciso um pouco mais, como cálcio, potássio ou até mesmo pitadas de lítio, mas o fato é que a vida não requer condições tão especiais assim.

Claro, também requer planeta ou lua que possua água e os 5 elementos acima (que os astrônomos chamam pelo mnemônico CHONPS), mas será que existem tantos planetas assim? De acordo com os resultados do telescópio espacial Kepler, na média existe um planeta para cada estrela na Via Láctea, a nossa galáxia. Isso significa que temos entre 100 e 200 bilhões de planetas! Muitos planetas são gasosos como Júpiter ou Netuno, onde a vida parece improvável, mas o mesmo Kepler mostrou que pelo menos 20% dos planetas são rochosos como a Terra. Não se pode dizer que as possibilidades não são boas, não acha?

Se as chances são boas, afinal onde estão todos?

Primeiro temos que pensar que vida não significa, essencialmente, organismos mais complexos como animais ou mesmo vegetais, mas sim organismos unicelulares como algas microscópicas ou bactérias. A procura por vida no nosso Sistema Solar se baseia nessa possibilidade. Já temos vários locais com evidências concretas da presença de água: Marte, Europa (lua de Júpiter, não o continente) e Encélado (lua de Saturno), além de vários outros candidatos como Ganimede (outra lua de Júpiter) e até mesmo Plutão. Marte é o mais perto, portanto mais fácil de chegar, e por isso é o campeão de missões de estudo. Nesse instante em que você está lendo o texto, há meia dúzia de satélites dos EUA, Europa e Índia fotografando sua superfície, além de um jipe da NASA analisando amostras de solo e atmosfera e uma estação fixa que mede até terremotos (ou seriam ‘martemotos’?).

E fora do Sistema Solar?

Bom, aí o caso complica mais, pois não temos condições, ainda, de viajarmos tão longe assim. As sondas Voyagers são os únicos artefatos humanos que saíram do Sistema Solar. Elas foram lançadas no começo da década de 1970 e só há alguns anos elas conseguiram escapar do sistema. O que podemos fazer é buscar por vida através de métodos indiretos. Sem poder sair da Terra, ou de sua órbita como no caso do Hubble, só podemos analisar a luz de planetas e estrelas distantes, sem possibilidade de uma amostra de material e o que procuramos são assinaturas da presença de vida.

Por exemplo, quando a vida se desenvolve em um planeta, ela o altera, mesmo que sejam apenas microorganismos. Foi assim na Terra, quando algas se espalharam nos oceanos, elas produziram oxigênio a partir de gás carbônico, como acontece até hoje. Planetas que possuem vida devem mostrar também metano e ozônio, entre outros, na sua atmosfera. Todos esses gases podem ser produzidos naturalmente, mas são rapidamente destruídos por ação de raios UV. O fato deles existirem de forma estável, significa que há uma fonte de reposição, no caso, organismos vivos. Essas são as ‘bioassinaturas’ e acontece aqui na Terra.

 Vida evoluída a tal ponto de ter se tornado inteligente também pode ser encontrada à distância. Nesse caso são as ‘tecnoassinaturas’, marcas deixadas no ambiente planetário que denunciem atividade tecnológica. São elas, emissões de rádio (que podem ser captadas da Terra) ou gases emitidos pela atividade de fábricas de civilizações que tenham passado pela sua revolução industrial. Entre esses gases estão dióxido de nitrogênio e ozônio (que também podem ser produzidos naturalmente) e o famigerado CFC, que só pode ser produzido de forma artificial.

A NASA, principal agência espacial do mundo, tem projetos por busca de vida extraterrestre em todas essas frentes. Por exemplo, o substituto do telescópio espacial Hubble, o James Webb, está equipado com instrumentos para procurar as assinaturas que mencionei anteriormente. O lançamento do novo telescópio estava previsto para março de 2021, mas teve de ser adiado por causa da pandemia. Quem sabe em alguns anos encontraremos a resposta para a questão lá do começo do texto. Tomara, né?

Até a próxima!

Cassio Barbosa
Professor de Física do Centro Universitário FEI e Astrônomo